O blog do Cursinho Popular Eldorado foi desenvolvido para que haja a produção de conteúdo voltado especialmente alunes que estejam no processo pré-universitário. Aqui, você encontrará os mais diversos temas que, além de informarem, trazem uma profunda reflexão acerca da nossa sociedade. Os textos são redigidos por autores e autoras convidadas e não necessariamente refletem a opinião e a visão do Cursinho Popular Eldorado. Ainda assim, há um refinamento de informações para que não sejam propagadas notícias falsas, mentiras e/ou informações incorretas.
Para conferir as produções, clique no título do texto que deseja ler. Boa leitura!
4 escritoras incríveis para conhecer agora
Novembro, mês da Consciência Negra, período em que basta abrir as redes sociais e se deparar com publicações sobre o tema. Por isso, este blog decidiu fazer igual, mas não totalmente: serão apresentadas 4 escritoras negras, 2 brasileiras e 2 estrangeiras, importantes e interessantíssimas, com uma dica de leitura de cada uma delas.
É certo que a invisibilidade e o apagamento de pessoas negras existe, então, conhecer o trabalho de artistas, intelectuais e outras profissionais negras é uma maneira de valorizá-las, extrapolando mas reconhecendo a força de sua negritude.
Mas, para combater essa invisibilidade e apagamento resultantes do racismo estrutural, não bastam um dia ou um mês de homenagens. É preciso enaltecer diariamente, o ano todo, personalidades negras que foram e são relevantes nas respectivas áreas de atuação.
Assim, fica o convite para conhecer um pouco mais dessas escritoras e ler, não somente em novembro, mas durante o ano todo, literatura produzida por homens e mulheres pretas.
Carolina Maria de Jesus
A primeira autora a figurar nesta lista tinha que ser ela, pela importância de sua obra para a literatura brasileira. Negra e periférica, nasceu em 1914, em uma comunidade rural de Minas Gerais. Teve uma infância miserável e estudou por somente 2 anos. Adulta, veio para São Paulo, morou na favela, foi empregada doméstica e catadora de papel. Chegou a vivenciar o sucesso como escritora em vida, mas não foi devidamente remunerada por isso.
Teve 5 livros publicados em vida, mais 5 obras póstumas. Foi traduzida para 14 línguas e 40 países. Após sua morte, foram descobertas mais de 5.000 páginas de manuscritos seus, entre romances, poesias e peças de teatro, que permanecem em sua maioria inéditos.
Depois de alguns anos sendo ignorada pela crítica literária e pela academia, recentemente Carolina Maria de Jesus foi redescoberta e passou a ser novamente lida e estudada. O livro de maior sucesso da escritora, “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, figurou como obrigatório no vestibular da Unicamp em 2019.
A obra em questão, como o nome revela, é um relato do cotidiano de uma mulher pobre e favelada. Com linguagem simples, por vezes fugindo da norma culta, retrata de maneira direta e profunda as vivências da mãe de 3 filhos, solteira, que está tentando sobreviver na metrópole.
Uma dica extra: a grandiosidade da escritora também pode ser conferida na exposição gratuita “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros”, em cartaz no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, até o dia 27/3/2022.
Paulina Chiziane
A moçambicana foi a primeira escritora do país a ter um livro publicado. Além disso, ganhou em 2021 o Prêmio Camões, atribuído a autores que contribuíram para enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa.
Sua principal obra é “Niketche: uma história de poligamia”, que consta na lista de leituras obrigatórias do vestibular da Unicamp 2022. O romance conta a história de Rami, que, após descobrir que seu marido, com quem é casada há 20 anos, tem amantes e filhos por todo Moçambique, decide conhecer cada uma das mulheres com quem ele se relaciona.
Vale a pena conhecer não só a obra, mas a história de vida da escritora, seu pioneirismo na escrita, bem como suas reflexões a respeito das religiões e do papel da mulher africana em seu continente.
Chimamanda Ngozi Adichie
A nigeriana, jovem escritora de ficção e não ficção e mundialmente conhecida, é um dos maiores destaques da cultura de seu país e também da literatura contemporânea em língua inglesa. Suas palestras no evento TEDTalk contam com milhões de visualizações na plataforma YouTube.
Os pensamentos dessa escritora são tão potentes que trechos de suas falas, retirados da palestra “Todos devemos ser feministas “, realizada em 2012, foram utilizados na música “Flawless”, da diva pop Beyoncé, que renderam a ela até uma indicação ao Grammy em 2013
Seu livro mais famoso é o romance “Americanah”, de 2014, no entanto, já que Chimamanda é uma importante voz do feminismo atual, este blog indica a obra de não-ficção “Para educar crianças feministas: um manifesto”. Trata-se de um livro pequeno, rápido e fácil de ler, porque a escrita é fluida e parece uma conversa: em formato de carta a uma amiga que acaba de se tornar mãe de uma menina, a autora apresenta conselhos simples para oferecer uma formação igualitária a meninas e meninos.
Lélia Gonzalez
Esta humilde lista se encerra com outra brasileira: Lélia Gonzalez, que foi intelectual, ativista e política. Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1935. Filha de pais pobres, conseguiu estudar, formando-se historiadora e filósofa. Porém, sua contribuição acadêmica, intelectual e militante foi muito maior que isso. Lélia transitava da filosofia às ciências sociais, da psicanálise ao samba e aos terreiros de candomblé.
Para se ter uma ideia de sua importância, a famosa ativista norte-americana Angela Davis, declarou em 2019, quando esteve no Brasil: “Por que vocês precisam buscar uma referência nos Estados Unidos? Eu aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês comigo”
Corroborando a fala de Davis sobre a importância de Lélia, matéria publicada no Portal El País afirma que “Ao propor uma nova visão do feminismo, que considere o caráter multirracial e pluricultural da América Latina, em contraposição à visão eurocêntrica, ela discutiu, ainda nas décadas de setenta e oitenta, o que hoje se aproxima dos conceitos de feminismo interseccional (que incorpora as desigualdades de raça e classe) e decolonial (que questiona a ordem econômica e de pensamento de grupos dominadores).”
A escritora cunhou termos como o “pretuguês”, que nada mais seria do que a “marca de africanização do português falado no Brasil” (VISCARDI, 2021).
Assim, a dica de leitura é a obra que melhor apresenta os pensamentos da autora: “Por um feminismo afro-latino-americano”, que reúne textos produzidos ao longo de duas décadas. É uma leitura mais longa e densa do que as anteriores, mas ainda assim, essencial.
Referências
DELCOLLI, Caio. Cinco fatos sobre Chimamanda Ngozi Adichie. In: Revista Elle. https://elle.com.br/cultura/5-fatos-sobre-chimamanda-ngozi- Publicada wm 2/6/2021. Acesso em 24/11/2021.
GONÇALVES, Juliana. A escrita sagrada da romancista moçambicana Paulina Chiziane. https://www.brasildefato.com.br/2016/09/21/a-escrita-sagrada-da-romancista-mocambicana-paulina-chiziane. Publicada em 21/09/2016. Acesso em 24/11/2021.
MERCIER, Daniela. Lélia Gonzalez, onipresente. https://brasil.elpais.com/cultura/2020-10-25/lelia-gonzalez-onipresente.html El Pais. Publicado em 25/10/2021. Acesso em 24/11/2021.
RASCUNHO. Paulina Chiziane, do Moçambique, vence Prêmio Camões 2021. https://rascunho.com.br/noticias/paulina-chiziane-do-mocambique-vence-premio-camoes-2021/ Acesso em 24/11/2021
Redação do ABC do ABC. Conceição Evaristo comemora aniversário com Paulina Chiziane em encontro on-line. https://www.abcdoabc.com.br/abc/noticia/conceicao-evaristo-comemora-aniversario-paulina-chiziane-encontro-on-line-140912 Publicado em 24/11/2021. Acesso em 24/11/2021.
TEMPERO Drag. Mulheres Foda #03: Carolina Maria de Jesus. https://youtu.be/W5ONEEzm7wI
VISCARDI, Janaísa. Pretuguês, de Lelia Gonzalez. https://youtu.be/AA4MjU-Q-Zk
A Origem da Palavra Favela.
Cnidoscolus quercifolius é o nome científico de uma planta típica da caatinga brasileira, popularmente conhecida como Favela. Nos arredores da antiga cidade nordestina Canudos, localizada no Estado da Bahia, um morro chamado Alto da Favela ou Morro da Favela foi um ponto estratégico para os que lutaram na Guerra de Canudos, um acampamento ali montado serviu como base militar e trouxe a vitória para o lado dos que combateram Antônio Conselheiro.
Antes do ataque à pequena cidade, atualmente conhecida como Belo Monte, outras tentativas haviam sido feitas, porém as investidas anteriores foram derrotadas pela população de Canudos. Além disso, um extenso trajeto via terrestre para acessar o local era necessário. Uma informação interessante: a viagem foi registrada e imortalizada em “Os Sertões” de Euclides da Cunha, responsável por descrever a planta e narrar esse evento histórico. O exército, que em sua maioria era composto por ex-escravizados, tinha como principal motivação para o combate o pagamento de soldos e a obtenção de terras, proposta feita pelo governo da época. Mas, após o fim da guerra, o Estado não cumpre com a sua parte do acordo.
Como consequência, os soldados que voltaram da guerra ocuparam o Morro da Providência, na cidade do Rio de Janeiro, como forma de protesto e também pela necessidade de moradia. Vale dizer que na época já existiam os cortiços, uma outra forma de moradia humilde e que abrigava um grande número de pessoas em pequenos cômodos. O Morro da Providência, nomeado posteriormente para Morro da Favela, em homenagem ao espaço que foi parte de toda a história dos ex-combatentes, possuía semelhanças topográficas com o Morro da Favela baiano, de maneira que a associação entre os dois espaços foi quase instantânea. Atualmente, o morro voltou a ser chamado Morro da Providência. A favela deixou de ser o nome exclusivo de uma planta para um ser um substantivo para aglomerados de casas construídas de forma irregular.
A favela é uma árvore nordestina e baiana, que resiste ao clima quente, aos longos períodos de seca. Mede entre 4 e 8 metros de altura, seu tronco é curto e ramificado e cujo diâmetro mede entre 20 e 35 centímetros. Os frutos da planta têm o comprimento que varia entre 1 e 2 centímetros, eles “explodem” devido ao acúmulo de gases, dessa forma a favela espalha suas sementes. Suas folhas secas, ao chegarem ao chão, se tornam alimento para bois, vacas e bodes do sertão, suas sementes, moídas, servem de alimento para povo, podendo ser consumidas sozinhas ou acompanhadas da clássica farinha de mandioca.
A favela é forte, ramificada, resistente, dispersa, difusa, sem centro, marginal, nordestina e brasileira. A favela planta é força, vida, alimento, natureza. Temos duas favelas, mas só um coração. Grande o suficiente para caber as duas, entrelaçadas e cheias de frutos.
Por Smith
Fontes:
Alto da Favela - Canudos BA
https://www.youtube.com/watch?v=KtiM9UEvIWU
Em Canudos tinha muita Favela
https://www.youtube.com/watch?v=EBqwVbJq3QA
A Primeira Favela Brasileira que surgiu há 120 Anos, por 10 mil Soldados
https://www.youtube.com/watch?v=C5UXQcH6AAs
Favela (planta). Programa Tela Rural
https://www.youtube.com/watch?v=zc9wDxEK2Vg
FAVELEIRA - ALIMENTO E REMÉDIO
https://www.youtube.com/watch?v=0Ml_BkWbQ4s
UPDQ Favela - Cnidoscolus phyllacanthus
https://www.youtube.com/watch?v=l9Z3LdbuPRo
🇧🇷 Brazil’s FIRST Favela - Morro de Providência!
https://youtu.be/cPgKBmk-c1E
Conheça a história da 1ª favela do Rio, criada há quase 120 anos
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/rio-450-anos/noticia/2015/01/conheca-historia-da-1-favela-do-rio-criada-ha-quase-120-anos.html
Qual a origem da palavra favela?
https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/123853/qual-origem-da-palavra-favela.htm
Artigos:
Favela, favelas: interrogando mitos, dogmas e representações
VERA DA SILVA TELLES
FAVELA OU COMUNIDADE? COMO OS MORADORES, GUIAS DE TURISMO E OUTROS AGENTES SOCIAIS COMPREENDEM SIMBOLICAMENTE O “MORRO” SANTA MARTA (RJ)?
Rafael Melo Pereira
Carolina Lescura de Carvalho Castro
Bernardo Lazary Cheibub
SOBRE AS ORIGENS DA FAVELA
the origins of the ‘favela’
Prof. Dr. Alfredo Pereira de Queiroz Filho
Educação para todes: um sonho?
Não é de hoje que está presente e enraizado em nossa cultura dois conceitos básicos: o que é masculino e feminino. Veja bem: no chá de bebê; nas sinalizações do banheiro; nas vestimentas; e tantos outros exemplos possíveis de análise. Em 2004, o governo federal lançou o programa “Universidade para Todos”, ou PROUNI, que concedia bolsas de estudos parciais ou integrais, em faculdades privadas, a estudantes de escola pública ou de baixa renda, com a justificativa de promover a democratização e expansão do Ensino Superior.
No entanto, parcelas diversas da sociedade criticaram a iniciativa; algumas pessoas argumentaram que a democratização do acesso à Universidade deveria acontecer por meio da ampliação de vagas nas Universidades Públicas e não pelo financiamento do setor privado, como propôs o governo; outras não concordavam com a ampliação do acesso ao Ensino Superior de forma alguma, justificando que o dinheiro investido no ProUni poderia ser aplicado para melhorar a Educação Básica.
Quanto às críticas do primeiro grupo, é importante observar que, entre 2005 (ano imediatamente superior à criação do PROUNI) e 2019, ano em que foi realizado o último Censo da Educação Superior pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, o número de instituições públicas de ensino superior aumentou de 231 para 302 e a quantidade de estudantes matriculados saltou de pouco mais de 1,9 milhões para mais de 2,6 milhões, isto é, mais que dobrou no período verificado. Assim, ainda que parcialmente, em governos anteriores ao menos houve uma redução na defasagem de vagas ofertadas.
Já em 2021, o atual Ministro da Educação declarou recentemente em entrevista que “a Universidade deveria ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade”. Tal discurso demonstra a falta de interesse e de vontade do governo vigente em dar continuidade à democratização do ensino superior.
Essa declaração, somada aos sucessivos cortes orçamentários para a área da educação e a outras ações governamentais que indicam o sucateamento das universidades públicas, pode ter surtido ao menos um efeito desagradável: neste ano, foi registrado o menor número de inscrições para o ENEM desde 2005, sinalizando de que as pessoas não parecem mais acreditar que a universidade é para todos.
Educação é um direito previsto na Constituição Federal, ou seja, ao menos em teoria, o acesso à educação está garantido. Na prática, porém, tendo em vista que o orçamento público vigente é insuficiente para atender a todas as faixas de educação de maneira satisfatória, há discursos que defendem que o governo deveria investir apenas na educação básica, isto é, nos Ensinos Fundamental e Médio. Ora, esse é um argumento raso, uma vez que um dos requisitos para lecionar para crianças e adolescentes é a formação universitária. Assim, o investimento em Educação Superior irá contribuir para um ensino de melhor qualidade a alunes da Educação Básica.
Caso o acesso amplo à educação superior fosse realidade, a própria existência do vestibular como ferramenta de seleção deixa de fazer sentido. Em seu lugar, futuros universitáries poderiam escolher o curso de graduação a partir de suas aptidões, aspirações e interesses, criando um novo paradigma para o Ensino Superior.
Para quem ousa sonhar com uma sociedade mais justa, igualitária, com condições de vida dignas, universidade para todos não deveria ser somente o nome de um programa de política pública, mas um direito efetivamente implementado. Ou, nas palavras do educador Paulo Freire:
"Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.”
Referências
MIRANDA, Paula Roberta & AZEVEDO, Mario L.N. Fies e Prouni na expansão da educação superior brasileira: políticas de democratização do acesso e/ou de promoção do setor privado-mercantil?https://revistas.uece.br/index.php/redufor/article/view/1421/3379
ProUni - Apresentação. Portal do Ministério da Educação. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=205&Itemid=298&msg=1&l=aW5kZXgucGhwP29wdGlvbj1jb21fY29udGVudCZ2aWV3PWJ1c2NhZ2VyYWwmSXRlbWlkPTE2NCZwYXJhbXNbc2VhcmNoX3JlbGV2YW5jZV09cHJvdW5pJmQ9cyZwYXJhbXNbZGVdPSZwYXJhbXNbYXRlXT0mcGFyYW1zW2NhdGlkXT0mcGFyYW1zW3NlYXJjaF9tZXRob2RdPWFsbCZwYXJhbXNbb3JkXT1wcg==#:~:text=O%20Programa%20Universidade%20para%20Todos,institui%C3%A7%C3%B5es%20privadas%20de%20educa%C3%A7%C3%A3o%20superior.
Dados do Censo da Educação Superior. Portal do INEP. http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/dados-do-censo-da-educacao-superior-as-universidades-brasileiras-representam-8-da-rede-mas-concentram-53-das-matriculas/21206
Ministro da Educação defende que ‘universidade deveria ser para poucos’. Portal UOL, 10/08/2021. https://educacao.uol.com.br/noticias/2021/08/10/ministro-da-educacao-defende-que-universidade-deveria-ser-para-poucos.htm
PINHEIRO, Lara. Enem 2021 tem 31 milhões de inscritos confirmados, menor número desde 2015. Portal G1, 24/07/2021. https://g1.globo.com/educacao/enem/2021/noticia/2021/07/24/enem-2021-tem-31-milhoes-de-inscritos-confirmados.ghtml
As brasileiras que lideraram o sequenciamento do novo coronavirus. Revista Galileu. Março/20. https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2020/03/brasileiras-que-lideraram-o-sequenciamento-do-novo-coronavirus.html
por Adriana O.
O CONCEITO DE MASCULINO E FEMININO
Não é de hoje que está presente e enraizado em nossa cultura dois conceitos básicos: o que é masculino e feminino. Veja bem: no chá de bebê; nas sinalizações do banheiro; nas vestimentas; e tantos outros exemplos possíveis de análise. Devido a isso, pela cultura, tendemos a passar esses conceitos aos nossos descendentes, que por sua vez, sofrerão as consequências - positivas e negativas -, desse pensamento na sociedade.
Embora seja algo tão natural de ser pensado, é possível que determinada educação não surta, de fato, práticas coniventes do educado. Ele pode, inclusive, fazer exatamente o oposto daquilo que foi ensinado em seu processo de educação. Por exemplo, não ser um indivíduo machista embora tenha nascido num ambiente assim; não ser homofóbico embora tenha nascido em um ambiente assim. Todavia, não é o que se vê atualmente.
Por mais que existam esforços atualmente para extinguir a homofobia (preconceito com gays) essa luta ainda precisa de tempo para ser vencida. Tempo esse, que a geração 2000 - especialmente -, vêm conquistando nessa batalha para que a sociedade perceba o quanto é prejudicial agir assim, levando, inclusive, à depressão e, em últimos casos, ao suicídio.
A preocupação em torno da homofobia está presente, legalmente, na Constituição Federal de 1988 (CF-88), que diz, em seu Art. 3, inciso IV:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.
mais atualmente, em 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) enquadrou casos de homofobia/transfobia como sendo de racismo, o que prevê pena de 1 a 3 anos ou multa. ¹
A relação entre homofobia e suicídio é muito próxima. Portanto, pessoas que praticam homofobia induzem indivíduos que somente querem gozar de sua liberdade, à última decisão de sua vida. Sendo assim, um crime tanto quanto atirar na cabeça de alguém. Tratar com seriedade e modificar um ponto de vista ultrapassado, no entanto, infelizmente, é difícil, pois significa contrariar aquilo que, majoritariamente, nos foi ensinado e não reproduzir o mesmo. Embora difícil, é necessário. Eu consigo entender claramente quem é homofóbico observando o ambiente em que foi educado. Bem como eu consigo entender claramente quem é machista pela mesma análise. A dificuldade presente em se contrariar conceitos que foram passados a nós através da educação que tivemos, é sentida na pele diariamente pelo grupo LGBTQIA+ - quer seja na família, quer seja em seu pulso. Mas, como mencionado, a geração 2000 tem iniciado uma luta na conscientização da sociedade brasileira. São exemplos de indivíduos que, possivelmente, foram contra a educação que tiveram.
Não quero aqui levar a um ódio pelos vossos familiares. É compreensível que sejam assim, dado o tempo e pessoas pelos quais foram educados também. A tarefa é sua para que, daqui a alguns anos, se você tiver a vontade, o seu filho tenha um(a) pai/mãe que não apenas participou do tempo da luta, como também aderiu ela, fazendo, desse modo, o que você, possivelmente não teve: o conceito de não ser algo errado.
Se você não mudar a sua concepção, o que é total direito individual, saiba que não deve ter orgulho disso, porque você será um empecilho em uma luta que, certamente, ainda terá muito sangue.
Bill Gates uma vez disse que a pessoa não tem culpa de nascer pobre, mas tem total culpa se morrer pobre.
Fazendo uma analogia, você não tem culpa de nascer homofóbico, mas tem se morrer assim.
Fontes:
¹ https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1989/lei-7716-5-janeiro-1989-356354-publicacaooriginal-1-pl.html
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716compilado.htm
por Marcelo A.
Desejo Impaciente
Você se considera uma pessoa ansiosa? Fica agitade antes de uma viagem, de expor uma apresentação na escola ou no trabalho? Esse sentimento é denominado ansiedade e definido pelo dicionário Houaiss como “desejo impaciente”, sendo comum e experimentado por todes durante momentos da vida. Porém, o termo “ansiedade” tem sido cada vez utilizado de uma forma diferente no dia-a-dia. Esse novo sentido da palavra está associado a quem apresenta respiração ofegante, falta de ar, palpitações, agitação, sensação de desmaio, boca seca, dificuldade de concentração, pensamentos difusos, suor frio, entre outros sintomas, que podem indicar que alguém está sofrendo um transtorno ansioso ou simplesmente, que sofre de ansiedade. Durante uma crise, vários sentimentos e atitudes costumam aparecer: medo de morrer, “apagões” da mente, procrastinação, comer compulsivamente ou não conseguir se alimentar... a lista é imensa.
Relatório recente da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em 2018, classificou o Brasil como campeão mundial de ansiedade, indicando que 9,3% dos brasileiros sofrem com o problema, o triplo da média mundial. A pandemia de COVID-19 agravou essa situação, pois as incertezas em relação ao futuro aumentaram ou potencializaram quem já sofria com esse transtorno.
Entre os jovens, esses números são ainda mais expressivos: estudos sugerem que os sinais ansiosos saltaram de 11,6% para mais de 20% para essa parcela da população. Além do isolamento social e das mudanças de hábito que impactaram a todes, as incertezas em relação ao vestibular têm sido uma preocupação a mais para estudantes. Em 2020 e parcialmente em 2021, o ensino público foi negativamente afetado, uma vez que não houve aulas presenciais. Além disso, o acesso à internet para assistir às aulas virtuais ou para pesquisar conteúdos educacionais é um privilégio de poucos, desestimulando a participação desses estudantes nos vestibulares. É necessário destacar também que a preocupação com a diminuição da renda familiar, o desemprego e outras questões cotidianas são fatores que podem desencadear as crises de ansiedade.
Algumas atitudes podem ser úteis em momentos de crise ansiosa, como, por exemplo, prestar atenção na respiração e praticar a atenção plena (mindfullness). Além disso, aplicativos gratuitos, como o Calm, Lojong e Meditopia, disponibilizam meditação guiada, práticas de respiração e músicas relaxantes, que podem auxiliar em momentos. As técnicas mencionadas auxiliam a manter a mente focada no momento presente, a controlar a respiração e melhorar a concentração.
No entanto, o mais importante em caso de crises frequentes de ansiedade, é buscar ajuda profissional. O tratamento consiste em psicoterapia e, em situações especificas, são prescritas medicações específicas (ansiolíticos) para melhorar a qualidade de vida, como, por exemplo, quando a pessoa sofre de insônia, ataques de pânico ou fobias.
Portanto, caso perceba os sintomas listados, procure ajuda nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de sua cidade. Alunes do cursinho Eldorado também contam com atendimento gratuito das psicólogas! Tratar a ansiedade e outros transtornos mentais é cuidar da pessoa mais importante da sua vida: você.
Fontes:
Zenktub - Ansiedade
Saúde - Sinais de Depressão
UOL: Viver Bem - Sinais de Ansiedade
Imagem: Clinical Alphamed
por Adriana O.
Conhecimento é Poder!
No mês dedicado à prevenção ao suicídio, nada mais justo do que conscientizarmos as pessoas de uma forma bem incisiva: através da Lei Penal. Afinal, mesmo o Setembro Amarelo exercendo a função mundial de conscientizar, ainda assim, precisamos de um instituto capaz de criminalizar algumas das várias condutas repudiadas pela campanha, quais sejam: induzimento, instigação e/ou auxílio ao suicídio e a automutilação.
O Código Penal Brasileiro de 1940 vem, desde então, tratando sobre o suicídio em seu artigo 122, onde lia-se:
“Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único: A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.”
Recentemente, em dezembro de 2019, houve uma alteração no texto do artigo, enriquecendo-o com a inclusão de novas condutas e especificidades, com o intuito de termos mais um instrumento jurídico que visa proteger a vida e a saúde de qualquer indivíduo, com maior eficiência, contra atos lesivos de terceiros como, por exemplo, o desafio da baleia azul e inúmeras outras condutas que incentivam a automutilação e o autoextermínio.
A nova redação do artigo 122 inclui o ato de induzir, instigar e/ou auxiliar a prática de mutilação (inexistente na redação de 1940), além de tratar sobre a possibilidade de aumento da pena (até o dobro), se tais condutas são realizadas por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. E, por fim, dispõe que se o crime for cometido contra menor de 14 anos, contra quem não tem o necessário discernimento, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, o agente responderá pelo crime de homicídio, nos termos do artigo 121 do Código Penal.
Dito isso, esclareço: é preciso conhecer a Lei para que possamos lutar.
O grande objetivo do Código Penal, quando da tipificação dos crimes, é INIBIR tais condutas. Sendo assim, o artigo 122 pode e deve ser uma das armas para lutarmos contra o suicídio. Pois, quanto mais conhecemos sobre a causa, com mais embasamento podemos passar nossa mensagem.
A conscientização sobre todos os aspectos dessa conduta, é importante. Seja como for, o objetivo segue sendo o mesmo desde o dia em que este mês fora instituído o Mês da Prevenção ao Suicídio.
Dessa forma, acredito que, em consonância com todas as diretrizes já existentes, devemos incluir a conscientização de que a INDUÇÃO, a INSTIGAÇÃO e o AUXÍLIO ao suicídio e/ou automutilação é CRIME e, sendo assim, precisamos treinar nossos olhos para conseguirmos detectar tais situações.
Salvar vidas é o único, e genuíno, objetivo do Setembro Amarelo, portanto, quanto mais ferramentas tivermos para lutar a favor dessa causa, mais vidas poderão ser salvas. Afinal, segundo a máxima cunhada pelo filósofo inglês, Francis Bacon: “O conhecimento é em si mesmo um poder”.
Fontes:
Planalto - Decreto de Lei 2848
Planalto - Lei 13.968/2019
por Nádya Siciliano
O Isolamento
Sempre ouvi que não podemos nos isolar do mundo, nos afastar dos amigos e sempre sermos abertos em relação aos nossos sentimentos.
A discussão sobre saúde mental é recente. Até poucos anos atrás, pessoas com algum tipo de distúrbio psiquiátrico eram isoladas da sociedade, sendo tratadas como se tivessem algum tipo de doença contagiosa. Para se ter uma ideia, em 1903, foi criado um hospital psiquiátrico em Barbacena (MG), onde pacientes totalmente lúcidos eram internados e voltavam perturbados, ou então acabavam falecendo lá dentro por causa dos tratamentos. O hospital só foi fechado nos anos 80, depois de muitas denúncias. Algumas estimativas apontam que mais de 60 mil pessoas morreram devido a torturas, tratamento de eletrochoque, de fome ou de frio, durante o período de funcionamento do hospital e chegam a compará-lo ao campo de concentração da Segunda Guerra. Só em 2001 houve uma melhora nos tratamentos psiquiátricos, devido a reforma, mais informações sobre*.
Podemos perceber como é importante o Setembro Amarelo, mês instituído pensando em acabar com o tabu que é falar sobre assuntos delicados como saúde mental. Dizem por aí que o mal do século são os distúrbios mentais, como a Ansiedade, Depressão, Borderline e outros, que fazem com que a qualidade de vida diminua, porém, o verdadeiro mal do século é a inibição imposta pela sociedade, em sua maioria, que nos impede de discutirmos abertamente sobre assuntos tão relevantes.
Sei que achar a psicóloga perfeita, o tratamento mais adequado é difícil, mas não devemos desistir e nem passar por isso sozinhos. O tempo traz a cura e SEMPRE devemos confiar no processo, mesmo ele sendo lento.
Se você tem qualquer tipo de sintomas, o mais indicado é procurar um psiquiatra e terapia.
Aqui vai alguns canais para quem precisar:
Saúde Mental - UOL
Centro de Valorização da Vida
Fontes:
Prefeitura de Barbacena/MG
Centro Cultural do Ministério da Saúde
por Victoria R.